Nestas últimas semanas, o Rio Grande do Sul está sendo palco de uma tragédia ambiental que tem deslocado milhares de pessoas, após as enchentes começarem no estado há um pouco mais de duas semanas. Está sendo um doloroso lembrete de como o Brasil está profundamente inserido na problemática do deslocamento forçado por questões climáticas. Este incidente destaca uma tendência alarmante que é corroborada pelos dados do mais recente relatório do Centro de Monitoramento de Deslocamento Interno (IDMC, na sigla em inglês), lançado nesta terça-feira, 14 de maio.
Segundo o relatório “2024 Global Report on Internal Displacement”, o Brasil foi responsável por mais de um terço dos deslocamentos forçados por desastres ambientais na América Latina em 2023. Este dado impressionante traduz-se em 745 mil pessoas deslocadas, o maior número registrado no país desde o início da coleta de dados em 2008. Este aumento significativo reflete a vulnerabilidade crescente do Brasil frente às mudanças climáticas e à intensificação de eventos climáticos extremos.Com o desastre no sul do país, esse número tende a crescer.
No ano passado, mais de 32 milhões de pessoas foram deslocadas em todo o mundo devido a desastres naturais, um aumento significativo comparado aos anos anteriores. No Brasil, a combinação de enchentes, deslizamentos de terra e tempestades severas têm sido os principais responsáveis por esses deslocamentos.
O caso do Rio Grande do Sul exemplifica essas tendências. A Defesa Civil do estado relata que 450 das 497 cidades gaúchas foram afetadas pelas tempestades, o equivalente a 90,5% do território. Algumas cidades atingidas são Caixas do Sul, Porto Alegre e Rio Grande. Com isso, mais de 540 mil pessoas foram obrigadas a deixar suas casas. Um fato importante, o ACNUR, Agência da ONU para Refugiados, estima que, das mais de 2,1 milhões de pessoas impactadas pelas enchentes, mais de 35 mil são migrantes, incluindo aqueles em situação de refúgio, que podem ter sido direta ou indiretamente afetados pelos desastres recentes no Estado.
O aumento dos deslocamentos forçados no país pode ser atribuído a uma série de fatores interligados. Mudanças climáticas estão intensificando a frequência e a severidade de eventos climáticos extremos. Além disso, a urbanização desordenada, a falta de infraestrutura adequada em áreas vulneráveis e ausência de investimento do governo em prevenção exacerbam os impactos desses desastres. A gestão inadequada do solo e a degradação ambiental desempenham papéis cruciais ao aumentar a suscetibilidade de regiões inteiras a desastres naturais.
Essa realidade é um sinal claro da necessidade de ação urgente e coordenada. O relatório do IDMC não apenas destaca a gravidade da situação, mas também serve como um alerta global sobre os desafios crescentes que as mudanças climáticas representam para a humanidade. O Brasil, como uma das nações mais afetadas na América Latina, deve liderar esforços para enfrentar essa crise, implementando políticas que protejam suas populações e promovam um futuro mais resiliente e sustentável.
Caso queira doar para as vítimas do Rio Grande do Sul, a Cruz Vermelha de São Paulo está arrecadando itens de maior urgência, como garrafas de água, alimentos não perecíveis, produtos de higiene e limpeza, além de roupas em bom estado. A sede da CVSP está funcionando 24h por dia para doações, no endereço da Av. Moreira Guimarães, 699, no bairro de Indianópolis, em São Paulo.
Referência: IDMC Global Report on Internal Displacement 2024.