Violência contra migrantes e refugiados no Brasil e seus impactos

Na última semana, a morte de Ngange Mbaye, cidadão senegalês de 34 anos, expôs novamente a vulnerabilidade que tantos migrantes e refugiados enfrentam no Brasil. Ngange era ambulante e foi baleado após uma abordagem policial na região do Brás, em São Paulo, enquanto tentava proteger seus produtos de trabalho. Ele chegou a ser socorrido, mas não resistiu aos ferimentos. Deixa uma companheira grávida de sete meses.

A história de Ngange não é um caso isolado. Infelizmente, a violência, seja institucional, xenofóbica ou estrutural, tem atravessado a vida de pessoas migrantes no país de maneira sistemática. Em diferentes cidades, pessoas em situação de refúgio ou migração têm sido alvo de agressões físicas, discursos de ódio e, em casos extremos, assassinatos.

Em 2022, o congolês Moïse Kabagambe, de 24 anos, foi brutalmente espancado até a morte em um quiosque na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, após cobrar por diárias de trabalho. Sua morte gerou comoção nacional e reacendeu debates sobre racismo, exploração de migrantes e o apagamento das vidas negras estrangeiras no Brasil.

Em 2024, outro cidadão senegalês, Serigne Mourtalla Mbaye, também perdeu a vida após uma ação da Polícia Militar em um prédio na região central de São Paulo. Ele foi encontrado morto nos fundos do edifício, em circunstâncias ainda não totalmente esclarecidas. Talla deixou esposa, dois filhos pequenos, familiares no Senegal e muitos amigos na capital paulista.

Esses casos revelam um cenário alarmante: migrar para o Brasil não tem garantido segurança ou acolhimento digno. Ao contrário, para muitos, a chegada ao território brasileiro é apenas o início de uma nova jornada de precariedade e exposição à violência.

As causas são múltiplas e entrelaçadas: falta de políticas públicas consistentes de acolhimento, ausência de formação intercultural para servidores públicos, racismo estrutural, xenofobia, desigualdade social e, em muitos casos, a informalidade forçada como única via de sobrevivência. Quando o direito ao trabalho, à moradia e à proteção se torna inacessível, a dignidade é colocada em risco e com ela, a vida.

Além dos impactos diretos e devastadores, como a perda de vidas, famílias destruídas e comunidades enlutadas, a violência contra migrantes tem efeitos profundos na saúde mental, no sentimento de pertencimento e nas possibilidades de reconstrução de vida em território brasileiro.

No Instituto Adus, acreditamos que toda vida importa, e a vida migrante precisa ser protegida e respeitada. É urgente repensar as estruturas de acolhimento e de segurança pública para que pessoas migrantes e refugiadas não sejam tratadas como ameaças, mas como parte fundamental da sociedade brasileira. Seguiremos comprometidos em promover a integração e os direitos de todas as pessoas em situação de refúgio ou migração, e em denunciar qualquer forma de violência que atente contra sua dignidade.

Ngange, Moïse, Tala e tantos outros não podem ser esquecidos. É pela memória deles – e pela vida dos que aqui permanecem – que seguimos.