A Nova Onda de Políticas Restritivas à Migração: Holanda, Canadá e EUA no Cenário Global

Nos últimos anos, a migração global tem enfrentado um cenário crescente de restrições, impulsionado por políticas de governos que buscam limitar a entrada de pessoas migrantes e refugiadas, justificando essas ações com argumentos de proteção econômica, segurança e preservação cultural. Comumente, cria-se uma retórica de medo que transforma o imigrante em um inimigo potencial, alimentando percepções negativas e justificando medidas de exclusão. Três exemplos recentes do Norte Global, a partir de medidas tomadas nos Países Baixos, no Canadá e nos Estados Unidos, ilustram a intensificação desse movimento e refletem uma tendência que ganha força no cenário internacional.

Nos Países Baixos, o governo anunciou recentemente que fechará suas fronteiras com a União Europeia a partir de dezembro deste ano. A decisão foi tomada como parte de uma estratégia para conter o fluxo de migrantes e refugiados que cruzavam fronteiras por outros países europeus e chegavam aos Países Baixos, aproveitando-se da livre circulação da UE. A medida foi justificada pela alegação de que o país já atingiu sua capacidade de acolhimento. Essa medida, inédita em um país conhecido por ser acolhedor, reflete um reposicionamento em prol de políticas mais rigorosas e pode estabelecer um precedente para outras nações da UE. 

No Canadá, tradicionalmente um país com políticas migratórias receptivas e progressistas, também foram impostas novas restrições para reduzir o número de estrangeiros. De 2025 a 2027, o país reduzirá o número de residentes permanentes de 500 mil para 395 mil, uma queda de 21% em relação aos anos anteriores. Essas ações vão na contramão da imagem de país multicultural e tolerante que o Canadá construiu ao longo dos anos e destacam uma preocupação com o impacto da migração na economia e infraestrutura locais. A medida pode representar uma mudança no discurso e no posicionamento do país, que ainda é uma referência de acolhimento para muitas pessoas em situação de migração forçada e trabalhadores migrantes.

Nos Estados Unidos, a escalada do discurso anti-imigração, intensificada especialmente em períodos eleitorais, tem produzido um clima de pânico moral, impulsionado por líderes políticos. O presidente eleito Donald Trump exemplifica essa retórica ao propor penas severas para imigrantes que cometam crimes contra cidadãos americanos, chegando a prometer “resgatar” o país dos imigrantes, a quem ele acusa de serem “criminosos sedentos de sangue” e “as pessoas mais violentas do planeta”. Esse tipo de discurso, ao transformar esses indivíduos em um “inimigo” da nação, cria uma narrativa que projeta o imigrante como uma ameaça à segurança e ao “tecido” cultural dos Estados Unidos. A atmosfera de medo e desconfiança resultante legitima políticas cada vez mais restritivas, que alienam e estigmatizam migrantes e refugiados, obscurecendo as verdadeiras causas da migração e desumanizando aqueles que buscam um novo lar. Esse pânico moral, ao reforçar estereótipos e alimentar a hostilidade, contribui para um ambiente de exclusão nas sociedades de acolhimento e reforça uma cultura de medo, que é explorada para fins políticos.

Em um mundo cada vez mais interdependente, onde crises climáticas, conflitos e desigualdades impulsionam o movimento de pessoas em busca de segurança e melhores oportunidades, essas barreiras exacerbam a vulnerabilidade de milhões de indivíduos. Além disso, ao promoverem uma retórica de inimigos externos, tais políticas ignoram as contribuições positivas dos migrantes para as economias e culturas locais, criando divisões e enfraquecendo os princípios de solidariedade global. Esse caminho de exclusão e hostilidade não só desafia os direitos humanos fundamentais, mas também ameaça a coesão social em escala global, levantando uma questão crucial sobre o tipo de sociedade que estamos construindo.