Como o Discurso Anti-Imigração Desvia o Foco dos Problemas Reais

A criação de um inimigo comum sempre foi uma estratégia eficaz para alimentar discursos de medo e desviar a atenção de questões internas urgentes. Ao longo da história, essa tática tem sido utilizada por diversos governos e movimentos políticos para mobilizar a opinião pública em torno de um alvo fácil, geralmente pintado como uma ameaça para a identidade e a estabilidade nacional. 

Hoje, o tema do momento é a crise migratória, e, em muitos países, como os Estados Unidos, Argentina e diversas nações europeias, migrantes e refugiados estão sendo retratados como inimigos. Eles são acusados de serem responsáveis por uma série de problemas sociais, como o roubo de empregos, crise econômica, a deterioração do tecido cultural e até mesmo o aumento da criminalidade.

Embora seja amplamente reconhecido que a migração traz benefícios econômicos — como o aumento da mão de obra, o incentivo à inovação e o enriquecimento cultural —, esses aspectos positivos ficam ofuscados pela retórica alarmista que visa deslegitimar a presença de migrantes no país. Ao transformar essas pessoas, sejam documentadas ou não, em bodes expiatórios, é possível desviar a atenção das verdadeiras questões que afetam a sociedade, como a falta de emprego, a inflação e os problemas estruturais que muitas vezes são causados por políticas públicas falhas ou pela negligência do Estado.

O discurso público proferido por grupos dominantes, como líderes políticos e religiosos, pode ser tão ou mais perigoso do que as próprias leis, pois tem o poder de moldar atitudes e comportamentos na sociedade. Quando esse discurso se volta contra a migração, retratando migrantes e refugiados como criminosos, ele alimenta estigmas e distorções que acabam incitando a população em geral a adotar atitudes hostis. Esse tipo de retórica contribui para a criação de uma “caça às bruxas”, onde pessoas vulneráveis são perseguidas, discriminadas e marginalizadas ainda mais. Ao desumanizar esses grupos, o discurso de ódio e exclusão agrava a marginalização de sua existência, dificultando sua integração e proteção dentro das sociedades que deveriam acolhê-los.

Em vez de focar em soluções concretas para os problemas sociais reais, como a criação de empregos ou a melhoria das condições econômicas para a população local, os discursos de ódio e xenofobia são utilizados para criar um inimigo fácil e visível, um alvo perfeito para a frustração coletiva. 

Essa estratégia não é nova, mas se tornou mais insidiosa à medida que a globalização e a interconexão mundial tornaram a migração uma questão inevitável e complexa. No entanto, é crucial que se enxergue além do discurso político, que muitas vezes serve para dividir e enfraquecer a sociedade. Em vez de culpar os migrantes pelas dificuldades internas, seria mais produtivo unir forças para enfrentar os desafios comuns e buscar soluções que beneficiem a todos, sem excluir ou demonizar os que buscam uma vida melhor.