Português: primeiro passo para a reintegração

É pelo domínio do idioma que começa a integração do refugiado à nova realidade, à nova cultura e ao país que escolheu para viver. Sem falar português, é praticamente impossível conseguir um emprego no Brasil, fazer um curso ou mesmo se virar nas pequenas necessidades do dia a dia.

 

E é por isso que o Instituto Adus mantém desde 2012 cursos regulares de português, o chamado PLAc (Português como Língua de Acolhimento). O  curso é formado por 3 módulos: o Módulo 1 é voltado àqueles que desconhecem o idioma ou têm pouco conhecimento da nossa língua. O Módulo 2 é para quem já fala o português e entende o básico. Já o Módulo 3 tem como foco as habilidades de escrita e comunicação. Os dois primeiros são trimestrais e o último módulo é contínuo. Há também o curso preparatório para o exame de proficiência em língua portuguesa, o Celpe-bras, que tem duração aproximada de dois meses.

Professores: Mônica Nakajima, Mateus Lima Oliveira e Fernando Akio Higa

Como as turmas são muito heterogêneas, com alunos de várias nacionalidades e com níveis diferentes de conhecimento, o material didático é exclusivo.

 

“O material didático tradicional não atende aos objetivos do curso. Daí a importância das nossas apostilas, pensadas para atender às necessidades das pessoas que recebemos nas aulas. Esse material é impresso e distribuído entre os alunos, graças ao patrocínio que recebemos. Todo aluno recebe ainda um kit escolar (caderno, caneta, lápis e borracha), fruto de doações”, esclarece Mônica Nakajima, coordenadora do projeto.

 

Além do conteúdo didático, o módulo básico trabalha também a sociabilidade do aluno. “A experiência de cada um é muito valorizada, há uma troca em sala de aula, tanto entre os alunos como entre eles e nós, os professores”, explica o professor Fernando Akio Higa. Mateus Lima Oliveira, que divide a turma com Fernando, completa. “Há uma troca cultural muito grande: ouvimos as dúvidas e questionamentos dos alunos, mas também aprendemos muito com eles. Muitas vezes também é preciso estudar mais profundamente a língua portuguesa para poder responder às indagações dos alunos”.

 

Além da integração e sociabilidade, o conhecimento do idioma proporciona autonomia: “A partir das primeiras noções do português, os alunos deixam de depender de amigos, conhecidos ou mesmo da boa vontade de estranhos para servir como intérpretes. Eles passam a interagir mais com os brasileiros e a circular com mais desenvoltura pela cidade e pelos serviços que ela oferece”, explica Mônica, que também ressalta a importância do domínio da língua para o ingresso no mercado de trabalho: “Sem o conhecimento básico do idioma, é praticamente impossível conseguir um emprego formal. Um dos pré-requisitos para preenchimento de vaga de emprego é o domínio da língua portuguesa”.

A voz do aluno

O haitiano Bazil Thelemaque, de 20 anos, chegou ao país há oito meses, frequenta o módulo básico desde agosto e fala muito pouco nossa língua:
“Moro com minha irmã, meu cunhado e minha sobrinha pequena. Soube do curso do Adus por meio de um amigo, que também estuda aqui. Procuro estudar pelos livros e pelos vídeos na internet, mas o curso é muito bom. Quero fazer todos os módulos, preciso aprender logo a falar o português”, diz o rapaz que hoje trabalha como ajudante de cozinha num restaurante.

 

 

O haitiano Bazil Thelemaque e o egípcio Ammar Hamimy

Já o egípcio Ammar Hamimy, de 25 anos, chegou ao Brasil há cinco meses e deseja se aperfeiçoar na língua portuguesa, já que fala outros idiomas (inglês, árabe e turco). Com curso universitário, Ammar é atleta e hoje procura trabalho para ter condições financeiras para voltar a competir: “Fiz designer gráfico em Alexandria e já fui professor de natação para crianças. Pratico triatlo e hoje treino natação e corrida. Quero aprender corretamente o português e também voltar a competir em provas de triatlo. Para isso, preciso saber falar corretamente a língua”, arremata o egípcio.

 

 

 

 

 

 

Serviço: as aulas acontecem na sede do Instituto e tem carga horária de 4 horas semanais.
Informações: portugues@adus.org.br
Texto: Maurício Mellone
Fotos: Guilherme Zauith