Tendo em vista os diferentes fluxos de pessoas que buscam refúgio no Brasil, existem diversos tipos de contextos e narrativas em que a comunicação é um fator primordial para que a cidadania das pessoas refugiadas seja exercida de forma efetiva.
O Brasil segue assumindo a posição de ser uma das nações mais procuradas pelos refugiados que buscam condições de vida que não sejam afetadas pelas tensões políticas, econômicas e institucionais do seu país de origem.
Infelizmente, muitas das vezes torna-se quase unânime entre as comunidades refugiadas a opinião sobre a presente insuficiência de recursos na comunicação. A disponibilidade de internet gratuita, por exemplo, é uma das ações que não se apresenta em todas as instituições humanitárias e/ou espaços públicos de acolhimento. Ocorre que a internet muitas das vezes fica restrita às entidades que atuam em tais espaços.
Pensar nas formas de comunicação vai muito além dessa disponibilidade, pois também inclui formatos de produção de informação entre as comunidades. Desde 1983, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) reconhece que o exercício da liberdade de opinião, expressão e informação é uma parte integrante dos direitos humanos e das liberdades fundamentais e se torna significativa como um fator vital no fortalecimento da paz e da compreensão internacional.
Desse modo, a participação das pessoas refugiadas na produção e consumo de informações também auxilia com o enfrentamento de desigualdades e possibilita o ato de ser um cidadão com o sentimento de pertencimento.
O acolhimento comunicacional precisa ser construído não somente nas etapas introdutórias da chegada de uma pessoa refugiada ao país. A inserção de um indivíduo na sociedade também é uma questão de saúde, bem-estar e protagonismo.
Podemos refletir com mensagens já referenciadas como as do educador e filósofo Paulo Freire, que nos instiga a pensar que o direito de comunicar é necessário aos indivíduos, bem como aos grupos e comunidades que os compõem. A comunicação não é só compartilhada, é construída. É por meio da comunicação que é possível identificar alertas de desigualdade e que podem ser solucionadas e acolhidas através de diálogo, senso de coletividade e empatia.
Não só deve existir, mas também precisa ser reconfigurada. Para as pessoas que exercem o ofício de comunicadores, também é importante ressaltar que a comunicação humanitária deve ser refletida pela forma e desdobramentos de como é feita. A UNESCO, complementando as formas de comunicação, reforça que a assistência comunicacional é independente e sem discriminação. Sem a comunicação, a vida de uma comunidade refugiada é deslegitimada e impedida de viver com sua identidade cultural em plenitude.
Refletir sobre a comunicação para pessoas refugiadas requer a consideração da diversidade e de múltiplas culturas, que precisam ser manifestadas de forma oral, escrita e visual. Recriar, repensar e refletir é uma tarefa diária para o desempenho do papel de comunicadores, gestores e mediadores para ações voltadas para o público refugiado.