O modo como falamos sobre migração revela muito sobre o que pensamos, quais medos carregamos e que tipo de sociedade queremos construir. Na atual onda conservadora, especialmente com o governo dos EUA reforçando discursos anti-imigração, o termo “imigrante ilegal” tornou-se uma ferramenta de desumanização, usada por políticos, veículos de mídia e defensores de políticas mais rígidas para reforçar estereótipos negativos. Essa palavra não é neutra. Ela carrega um julgamento moral e jurídico que não corresponde à realidade e, no mínimo, serve como apoio tácito aos grupos mais extremistas e xenófobos.
É fato que pessoas indocumentadas violaram uma norma ao entrar sem permissão ou permanecer além do permitido. Porém, isso não faz delas criminosas. Classificá-las como “ilegais” sugere uma condição permanente de delinquência, como se sua existência fosse, em si, uma violação da lei. Nenhum ser humano pode ser ilegal.
Nos EUA, por exemplo, a maioria das disposições constitucionais se baseia na personalidade e na jurisdição dentro do país, ou seja, qualquer pessoa fisicamente presente no território estadunidense está sujeita a essas disposições, independentemente de sua cidadania. Um exemplo disso é a Quinta Emenda, que garante que “nenhuma pessoa… será compelida em qualquer caso criminal a ser testemunha contra si mesma, nem será privada da vida, liberdade ou propriedade, sem o devido processo legal”, assegurando direitos fundamentais a todos, incluindo imigrantes indocumentados.
Portanto, essa retórica apenas reforça um imaginário punitivista e desumanizante, que abre espaço para políticas mais duras, como detenções em massa, deportações sem julgamento adequado e a separação de famílias.
Por fim, o termo adequado é “indocumentado” ou “sem documentos”, expressões que reconhecem a situação da pessoa sem reduzi-la a um rótulo. A forma como nomeamos os outros importa. Palavras podem alimentar preconceitos ou criar pontes para a empatia e a compreensão. Escolher termos justos e precisos não é apenas uma questão de correção política, mas um ato de respeito e dignidade.